"Pesômetro"

domingo, 21 de novembro de 2010

Máscaras...



"Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Escrever, por exemplo: "A noite está estrelada,
e tiritam, azuis, os astros lá ao longe".
O vento da noite gira no céu e canta.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu amei-a e por vezes ela também me amou.
Em noites como esta tive-a em meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.

Ela amou-me, por vezes eu também a amava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi.

Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.

Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
A minha alma não se contenta com havê-la perdido.
Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a.
O meu coração procura-a, ela não está comigo.

A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.
Nós dois, os de então, já não somos os mesmos.
Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei.
Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.

De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos.
Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda.
É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.

Porque em noites como esta tive-a em meus braços,
a minha alma não se contenta por havê-la perdido.
Embora seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo."

-Pablo Neruda -

Cansei...
Cansei de fingir...
Cansei de enganar, atuar, de esconder...
Cansei de não poder chorar, de ter que rir, de não poder externar o que sinto...
Cansei de chorar em secreto, de lavar rápido o rosto, de "estar sempre com sono"...
Cansei de não ser eu mesmo, de não ir onde quero, de não fazer o que desejo...
Cansei de mentir, de dizer que não te amo mais, que não a quero...
Cansei de não te ter mais para rir, chorar, ouvir, contar, compartilhar...
Cansei de não poder te beijar, tocar, massagear seu corpo, sentir teu gosto, teu cheiro...
Cansei de não poder rir mais de suas manias, de não poder vê-la dormir, saber dos seus sonhos...
Cansei de não vê-la mais se exercitanto, se arrumando, escolher peças com você, ser seu "juíz"...
Cansei de não sentir mais sua respiração ofegante, seu gemido, o tremor do seu corpo no auge do prazer...
Cansei de não ter mais momentos a sós contigo, jantares, tardes de sono, saídas não planejadas...
Cansei de não poder mais mostrar que te amo, de lhe escrever bilhetes pela casa, lhe comprar ou roubar flores, lhe surpreender...
Cansei de viver a vida sem você...
Só me resta hoje, cuidar bem do pouco que deixou de mim
Para, quem sabe um dia, descançar enfim...

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Peças da vida...



Sabe, viver é incrível, tão simplesmente pelo fato de só existir...
É impressionante como nada é atoa, nada vem sem um "por que?", um "pra que?".
Toda ação gera uma reação. Tudo tem início, meio e fim. Consequências, efeitos colaterais. Conclusões.
Tudo detalhado, tudo bem pensado, bem arquitetado.
Nós que não costumamos "perder tempo" reparando em minícias, em detalhes.
Eu me acostumei a "perder tempo" ao fim de todos os meus dias pra refletir, pra entender, pra, pelo menos, perceber a vida.
Unir as peças desse quebra-cabeça magnífico que é nossa existência.
E nada, nenhuma peça, é inútil, é leviana, é atoa.
Às vezes tento enxergar o fim, o resultado, a "imagem" que as peças criarão, mas não consigo... Faltam peças, ainda não é a hora, não deu o tempo pra isso.
Ou até mesmo é necessario interagir com quebra-cabeças de outros.
E as peças erradas? As que tentamos forçar o encaixe e, de repente, achamos a correta, a que deveria estar ali e guardamos a "errada" pro momento em que ela será a correta.
Tem hora que é difícil mesmo, é muita pecinha, muito parecidas ou, o contrário, diferentes demais... Hora de parar, afastar e ver de longe e, ai sim, continuar.
Hoje aprendi a não tratar meu quebra-cabeça de forma desleixada, irresponsável. Vai que perco uma peça... Como vou entender? Como vou ligar as demais? Como vou chegar ao fim?
Aprendi a ter paciência comigo. A me deixar sentir, testar, estudar, meditar, enfim, refletir sobre as peças, seus tamanhos, formatos, cores...
Sei lá, o sentimento que tenho hoje é de curiosidade, espectativa pra ver as próximas peças, sejam elas como forem. Bonitas, dolorosas, difíceis, engraçadas.
Porque são minhas peças, são importantes pra mim.
São vitais pro meu quebra-cabeça, pro meu futuro, pra minha vida.

Inté e boa sorte com o seu ;-).
o/

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Amor...



"Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?"

-Fernando Pessoa-

Esse carinha é difícil...
Pelo menos pra mim é.
Esses dias tenho refletido sobre isso. Amor. Saber amar. Ser amado. Se deixar amar.
Defina amor. Vamos lá, defina. Estou esperando ainda, heim?
Pois é, ainda não surgiu um que conseguiu uma definição que fosse completa.
É muito Ambíguo, obtuso, evasivo em si.
Mas pra mim, é triste.
Tenho péssimas experiências com o amor... Acredito demais, me entrego demais, ponho fé demais e ai... no final, rima sempre com dor...
Não me leve a mau. Acredito nele. Acredito mesmo, só que minha vida me leva a crer que essa beldade não é pra mim.
É o vinho e o veneno, a vida e a doença, a alegria e a amargura, o começo e o término de tudo.
Seria legal poder dominá-lo. Poder escolher quem ou o que se ama, mas geralmene é sempre o mais complicado que nos atrai, não é? É uma coisa meio destrutiva, arrasadora...
Será que minha visão está errada? Bom, tive momentos de felicidade, não nego. Mas se fizer uma comparação... Não valhe a pena. É muito pouco por um preço alto. Muito alto.
Bem, encerro esses devaneios pensantes com um poema conhecidíssimo e que reflete um pouco do que tentei escrever:

"Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade
É servir a quem vence o vencedor,
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade;
Se tão contrário a si é o mesmo amor?"

- Luís de Camões -

Inté o/